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22.04.2025Cinemateca de Curitiba completa 50 anos de preservação do audiovisual
A Cinemateca de Curitiba narra a história da cidade por meio dos filmes. Fundada oficialmente em 23 de abril de 1975, a instituição da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) completa 50 anos em 2025, consolidando-se como um dos espaços mais importantes para produções audiovisuais paranaenses.
Terceira mais antiga do Brasil, perdendo apenas para o pioneirismo da Cinemateca Brasileira, de São Paulo, e para a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ao longo dessas cinco décadas, a Cinemateca de Curitiba virou guardiã da cultura cinematográfica paranaense e preserva um dos acervos mais importantes do país, com 7 mil títulos de filmes. Ela também é responsável por formar gerações de cineastas curitibanos.
Do cineclubismo à formação cinematográfica
A origem da Cinemateca está ligada ao cineclubismo, que chegou com força ao Paraná a partir dos anos 1940 e teve auge nos anos 1960. Esse movimento promoveu exibições e debates sobre filmes em diversos espaços da cidade e foi responsável por revelar cineastas como José Augusto Iwersen e Sylvio Back.
Em 1974, a Jornada Nacional de Cineclubes, realizada no Teatro do Paiol, reuniu cineastas, críticos e entusiastas de todo o Brasil e teve apoio da recém-criada Fundação Cultural de Curitiba. O evento foi um dos pontos de partida para a ideia que transformaria para sempre o cenário audiovisual paranaense.
Os cineclubes promoviam apenas a difusão do cinema. Como lembra o crítico e ex-diretor da Cinemateca de Curitiba, Francisco Alves dos Santos, a Cinemateca surge de uma necessidade. “Faltava aparelhagem para filmagem, incentivo à produção e um espaço apropriado para exibição continuada”, conta Francisco.
Preservar, formar, exibir
À frente da iniciativa de criar a Cinemateca de Curitiba estava o jornalista, escritor e cineasta Valêncio Xavier. Coube a ele conceber um espaço que fosse muito além de uma sala de projeção.
“Foi um divisor de águas. O cinema no Paraná tem uma história antes e uma depois da Cinemateca”, diz Francisco, que durante os anos de 1983 a 1990 assumiu o cargo de diretor da Cinemateca, após a gestão de Valêncio Xavier.
Primeira sede, primeiros filmes
A primeira sede funcionou como um anexo do Museu Guido Viaro, na Rua São Francisco. Com entusiasmo abundante, ali começaram a ser oferecidos cursos gratuitos de cinema, realizados seminários e resgatados filmes dos pioneiros do cinema paranaense, como Aníbal Requião e João Baptista Groff.
Ela funcionava em um auditório de 110 lugares com equipamento de projeção e som, inicialmente em 16mm e depois com 35mm.
Na primeira programação após a inauguração, nos meses de abril e maio de 1975, a Cinemateca de Curitiba exibiu os filmes Soberba, de Orson Welles; O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais; e Peter Bogdanovich, de John Ford. O cinema brasileiro também teve destaque com A Margem, de Ozualdo Candeias, e a estreia de Passe Livre, de Osvaldo Caldeira.
Além disso, o público curitibano pode conferir no primeiro mês mostras especiais, como o Festival de Novos Diretores do Cinema Alemão, o Festival de Curtas Poloneses e uma seleção de animações canadenses.
O cinema paranaense teve espaço garantido com a exibição de obras como Lance Maior, de Sylvio Back, e o documentário Os Índios Xetás da Serra dos Dourados, de J.B. Groff e Loureiro Fernandes. Para o público infantil, as matinês dominicais estrearam com o longa japonês A Princesa da Lua e sessões dedicadas ao clássico cowboy Tom Mix.
Dois anos após a inauguração, a Cinemateca de Curitiba registrou um público de 20 mil pessoas e 486 filmes exibidos, 277 nacionais, entre os quais 46 paranaenses.
A casa própria e a “madrinha” Fernanda Montenegro
Em 1995, a Prefeitura de Curitiba começa a construir uma nova sede para a Cinemateca, na Rua Carlos Cavalcanti, 1.174, São Francisco. O projeto foi encampado pelo diretor da Cinemateca na época, Cido Marques, cineasta e fotógrafo da Fundação Cultural de Curitiba.
Em 1998, a Cinemateca muda de lugar. As novas instalações ofereceram melhores condições de armazenamento dos filmes e também uma sala de projeção, com muito mais conforto, salas de aula, biblioteca e laboratório de restauração.
A inauguração contou com a presença da atriz Fernanda Montenegro, que na época tinha acabado de estrear no filme Central do Brasil, do diretor Walter Salles. No ano seguinte ela foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz.
Hoje, o acervo da instituição é um dos mais importantes do país, reunindo clássicos do cinema nacional e internacional, além de preservar a produção local com especial atenção. São mais de sete mil filmes em seu acervo, com cerca de três mil em película. Obras fundamentais da história do audiovisual estão ali catalogadas e acessíveis gratuitamente ao público e a pesquisadores.
Geração Cinemateca
Durante décadas, a Cinemateca funcionou como espaço de formação gratuita. Jovens de todas as camadas sociais tiveram acesso a câmeras de 16mm e 35mm, moviolas e laboratórios. “Era um equipamento caro e raro. E a Cinemateca permitia que jovens sem recurso algum fizessem cinema. Isso unificava a cidade”, recorda Francisco.
A ideia dos fundadores era não apenas um local para exibir filmes, mas que também formasse profissionais da área, realizasse pesquisas e preservasse obras cinematográficas. Nesse sentido, foram realizados diversos cursos, seminários, encontros e atividades de formação.
Memória e futuro
Ao completar 50 anos, o futuro da Cinemateca de Curitiba, para Francisco Alves, depende do compromisso com os princípios que a originaram. “Temos que continuar acreditando no cinema como inventividade, como expressão da identidade da nossa gente. O cinema como conhecimento e como força cultural. A Cinemateca tem que seguir sendo um espaço público, aberto e libertário”, defende o crítico.
Tecnologia digital de som e imagem
Em 2025 a Cinemateca de Curitiba entra na era da tecnologia digital. A Fundação Cultural de Curitiba instalou um projetor de última geração para exibições de filmes em alta definição de som e imagem. Agora, é a única sala de cinema do Paraná capaz de exibir filmes em película 35mm, 16mm, 8mm em 2D.
O novo equipamento faz parte de um projeto de modernização da infraestrutura técnica, que inclui também a digitalização do acervo de filmes da Cinemateca.
Curiosidades sobre a Cinemateca de Curitiba
Filmes em película
Única sala de cinema da cidade que ainda realiza exibições em película, formato cada vez mais escasso, a Cinemateca de Curitiba atrai não só pela raridade, mas também pela qualidade da programação.
As películas ficam guardadas em uma sala especial onde se tem controle da umidade e da temperatura. Alguns dos títulos são de nitrato, um material muito inflamável, e ficam guardados em uma sala diferente e categorizados com uma lata vermelha.
Sete mil filmes no acervo
Um dos mais completos espaços da cidade para cinéfilos, a Cinemateca de Curitiba tem mais de sete mil filmes em seu acervo. Cerca de três mil são em película. Os filmes foram adquiridos ao longo dos anos por meio de doações, obras que muitas vezes estavam para ser descartadas.
Mais antigos do acervo
Entre os títulos mais antigos se destacam as obras de João Groff (1897-1970) e Annibal Requião (1875-1929), dois pioneiros do cinegrafismo paranaense.
Cineclubes
Os cineclubes têm andado lado a lado com a Cinemateca desde sua fundação. Eles colaboram com a programação, alguns deles com atividades constantes como Atalante, Aliança Francesa, e Centro Cultural da Espanha.
Museu da Cinemateca
Além de diversas exibições gratuitas de filmes, a Cinemateca também tem diversos objetos em exposição como projetores antigos, câmeras de diversas marcas e pôsteres de filmes marcantes. Destaca-se dentro da coleção um projetor do começo do século 20.
Queridinhos do público
As exibições gratuitas dentro da Cinemateca sempre atraem um grande público, principalmente pela diversidade de obras. Entre os que mais atraem público, se destaca o Cinema Novo Alemão, com filmes dos cineastas Wim Wenders e Werner Herzog.
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