31.03.2025Arquitetura de 6 edifícios da Comendador Araújo sintetiza parte da história da cidade

A Rua Comendador Araújo, que liga a Praça Osório, no Centro, até a Avenida do Batel, no bairro de mesmo nome, é uma das mais emblemáticas de Curitiba. Nesse trecho de cerca de um 1,5 quilômetro, a rua reflete em sua paisagem urbana a evolução da cidade ao longo dos séculos.

Inaugurada em 1878, a então Estrada do Mato Grosso fazia a ligação da capital paranaense com os Campos Gerais. Em 1887, os trilhos para bondes de tração animal foram instalados, representando um avanço para a época ao “agilizar” o transporte de produtos e passageiros. Mais de um século depois, a Rua Comendador Araújo evoluiu para o cabeamento elétrico subterrâneo, implantado na década de 1990.

Também durante o século 19, a estrada foi fundamental para a economia ervateira no Paraná e desse período restam alguns marcos arquitetônicos importantes.

De acordo com a pesquisadora da Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba Angela Medeiros, desde o início, a Rua Comendador Araújo já demonstrava um comércio efervescente. “Historicamente, a rua apresenta pontos comerciais, depois também os moinhos de erva-mate, as casas dos ervateiros e alguns marcos da trajetória de Curitiba”, aponta Angela.

 

Seis destaques da trajetória de Curitiba em um passeio pela Comendador Araújo

 

Casa Glaser (Nº 241)

A Casa Glaser surgiu como um armazém de secos e molhados em 1887. Localizada na esquina com a Visconde do Rio Branco, permanece no mesmo endereço até hoje, mas a atual fachada é de 1914, época em que mudou de ramo e passou a comercializar de cristais e produtos importados de países com Polônia e República Tcheca. O edifício é uma referência da vocação comercial da Rua Comendador Araújo.

A primeira sede da UFPR: marco acadêmico (Nº 268)

Quando a Universidade Federal do Paraná foi fundada em 1912, sua sede não era o famoso prédio na Praça Santos Andrade, mas sim um sobrado na Rua Comendador Araújo. Ali começaram a funcionar cursos pioneiros, como Direito, Engenharia, Odontologia e Farmácia, dando os primeiros passos para a formação acadêmica superior no estado.

A antiga sede, que hoje abriga o Shopping Omar, testemunhou a evolução da instituição até sua mudança para um espaço maior, em 1914. O local carrega uma história essencial para o desenvolvimento intelectual e educacional de Curitiba.

Sociedade Thalia: símbolo da cultura germânica (Nº 338)

Fundada em 1882 por imigrantes alemães, a sociedade Thalia surgiu para preservar e divulgar a cultura germânica em Curitiba. Construída na década de 1940, é um dos mais expressivos exemplares do estilo neocolonial da cidade. Ao longo de sua existência, ela fortaleceu laços comunitários e tornou-se um importante centro de atividades culturais e esportivas de Curitiba.

O prédio se destaca por elementos como arcos plenos nas portas, balaústres nos balcões e pináculos no coroamento, conferindo-lhe uma identidade visual marcante. De acordo com o livro Uma rua no percurso do tempo – transformação e resiliência da Rua Comendador Araújo, obra realizada com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o Thalia é considerado o exemplar mais representativo desse movimento em Curitiba, em edifícios institucionais.

Igreja Presbiteriana (Nº 343)

A construção da Igreja Presbiteriana de Curitiba começou em 1893. Três anos depois o templo foi concluído e se tornou um dos mais belos exemplares arquitetônicos religiosos da cidade. A fachada se destaca pela simbólica Bíblia aberta em mármore branco, com a inscrição "A Palavra de Deus", além da frase "Vinde, adoremos ao Senhor nosso Deus, porque a sua misericórdia é para sempre" na janela central.

O templo tornou-se um ponto de referência para os presbiterianos em Curitiba, recebendo diversos pastores missionários e sendo palco de importantes eventos, como o batismo das primeiras crianças presbiterianas nascidas em Curitiba.

Edifício Canadá: modernidade e inovação (Nº 560)

Projetado pelo arquiteto Elgson Ribeiro Gomes, o Edifício Canadá, construído entre os anos de 1960 e 1963, se destaca como um dos primeiros grandes projetos residenciais de Curitiba. Inaugurado com apartamentos amplos e uma única unidade por andar, ele representa uma transição para uma nova era de habitação vertical na cidade.

De acordo com Angela, o prédio é fruto do projeto de modernização urbana de Curitiba, o Plano Agache. “Na década de 1940, o plano urbanístico estabelecia a rua como parte do centro de Curitiba e previa prédios com mais de três andares. As construções se revelaram dentro de uma estética predominante da arquitetura modernista”, conta a pesquisadora.

A estrutura do edifício chama atenção pelo seu design inovador, com esquadrias de alumínio e pilares em "V" no térreo, criando uma identidade visual marcante. Sua localização privilegiada na Comendador Araújo reforça a diversidade arquitetônica da rua, onde o antigo e o novo se encontram.

Era do mate: herança de um ciclo econômico (Nº 711 e 906)

No final do século 19 e início do 20, a economia de Curitiba era impulsionada pelo ciclo da erva-mate. Esse período resultou na construção de diversas residências e comércios na Comendador Araújo, que refletem o estilo arquitetônico da época.

Os casarões erguidos por barões do mate apresentam elementos do ecletismo e do art nouveau, muitos deles preservados até hoje. Um exemplo é a antiga residência de Vicente Machado, que desde então abrigou diversas funcionalidades.

 

Compartilhe:

imprimir voltar